Eu me ajoelho e tento ver além do mar.
Já é tarde e perigoso, mas não posso mais voltar
e para onde vou ainda é uma incógnita.
Mas a praia onde descanso é uma inóspita
fenda entre duas rochas.
E nela encontro, ao suspirar,
uma curiosa concha na onda a bailar.
Cutuco, bato forte e em minhas mãos a detenho,
tento abrir sua casca com tanto empenho
que não viso parar.
Já é tarde e perigoso, mas não posso mais voltar.
Talvez eu siga uma estrela cadente,
talvez eu siga uma estrela-do-mar.
A concha não se abre e fere minhas mãos
enquanto meu incerto futuro desabrocha.
Não quero mais tentar abri-la em vão.
E uma pequena gaivota vem me mostrar
que ainda há um longo caminho para caminhar.
Tanto faz se é para lá ou para cá.
O dia já vai indo!
Foi lindo, foi lindo...
Mas não quero mais ficar.
Sigo a gaivota e talvez ela vá decifrar
que a concha não havia de se romper
assim como certas coisas não hão de acontecer.
E a praia vai findando.
A concha apenas na memória ficando.
Porque eu escolhi seguir minha liberdade
branca como a neve que eu já vejo chegar...